Não sei o porquê mas o cheiro do doce de goiabada me remete imediatamente à minha tão amada vó Júlia. Talvez seja por causa das lembranças mais antigas que tenho da casa da vovó. As férias de janeiro eram sempre recheadas de aventuras mil e quando chegávamos na casinha dela, a mesa estava sempre repleta de doces caseiros feitos com frutas colhidas no quintal. A casa tinha aroma desses doces e do café com grãos moídos na hora. Acho que vem daí a conexão que faço até hoje do doce de goiabada (meu preferido) com a minha avó.
Foi na casa dela que aprendi a subir em árvores a delícia de comer goiaba no pé sem nem se importar com os bichinhos, tirava a minhoquinha e comia, sinal que a fruta tava boa e sem veneno já dizia vovó, nunca vou esquecer do meu tão amado pé de amora e das incansáveis horas que passávamos ali em cima. Eu, Denise, Léo e Renato fazíamos dele praticamente a nossa casa. Amora comprada no mercado não tem o mesmo gosto. Depois que cortaram o pé nunca mais comi amora. Aprendi a pisar no chão de terra sem chinelo, aprendi a correr de cachorro, quantas vezes isso me foi necessário ao roubar mangas do vizinho, aprendi
que o corte do arame farpado machuca, mas não mata, aprendi a andar de salto na rua de paralelepípedos, aprendi a tomar banho de cachoeira. Enfim, aprendi tantas coisas, que ficaria
repetitivo citar todas aqui.
Foi nas longas viagens de idas e vindas que comecei a perceber como o nosso país é grande, cheios de contrastes e com muuuuita terra “vazia”, lembro da primeira vez que perguntei ao meu pai porque tinha gente sem lugar pra morar se tem tanta terra “vazia”. Ai ele percebeu o “problema” que estava por vir :D
Foi indo e vindo da casa da vovó que aprendi muitas coisas, inclusive sobre mim. Hoje, eu cresci, o pé de amora não tá mais lá, a mesa já não tem os doces caseiros que inundavam a casa com um aroma delicioso, não só dos doces, mas era cheiro de carinho. As idas e vindas já não são tão freqüentes, as responsabilidades adquiridas não me permitem mais esquecer da vida em cima do pé de amora. Mas o mais importante ainda está lá, minha avó com mãos tremulas continua me recebendo com um beijo carinhoso na testa e com seu doce cheirinho de goiabada.
Vó Júlinha, amo você! Obrigada pro me propiciar vivenciar a vida em uma cidade pequena e que por muitos e muitos anos você continue a me receber com um beijo na testa e seu cheirinho de goiabada.
Danee Eldochy